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Em meio a votação contra imigração, Suíça tem time 'estrangeiro' para Copa

Além de Shaqiri, os volantes Behrami e Xhaka vieram com seus pais do Kosovo, fugindo da guerra que assolou o país no fim dos anos 1990. Há ainda casos de filhos de imigrantes turcos, curdos, cabo-verdianos e bósnios. Há jogadores que nasceram na Costa do Marfim, na Colômbia e na Nigéria, mas cresceram na Suíça. O volante Inler é um dos principais exemplos. Capitão da equipe, ele nasceu na Suíça, mas é filho de turcos. Chegou a jogar pela seleção sub-21 de seu país de origem, mas optou pelos helvéticos. A gratidão por quem o acolheu desde pequeno falou mais alto. - Eu joguei uma vez pela seleção sub-21 da Turquia, mas depois acabei não tendo mais contato com eles. A Suíça em seguida lutou muito por mim. Eu tive uma boa conversa com o então técnico Jakob Kuhn, que me abriu portas para jogar pela seleção. O relacionamento foi tão bom que optei por jogar na Suíça. Uma decisão da qual não me arrependo – disse o jogador ao GloboEsporte.com. CAPITAL DE MIGRANTES Com tradição de país neutro, a Suíça se tornou um dos destinos mais procurados por pessoas de outros países europeus menos desenvolvidos em busca de oportunidades. Refugiados das guerras que ocorreram nos Bálcãs nos anos 1990 também imigraram em massa para a região. Entretanto, não houve qualquer incentivo por parte das autoridades helvéticas. - O governo não incentivou isso. Mas, como o padrão de vida aqui é muito alto, isso atrai muitas pessoas de outros países. A Suíça tem uma tradição de ajudar pessoas estrangeiras em dificuldades, foi assim nas duas guerras mundiais. Isso se sente até hoje – gente que foge de guerra em seu pais nativo recebe asilo aqui. Muitos jogadores da seleção vieram para cá quando eram crianças, ou então seus pais vieram para cá há muito tempo, e eles nasceram aqui, obtendo dupla nacionalidade – explicou Mathias Germann, editor do site suíço “Sport.ch”. Entretanto, os jogadores de futebol fazem parte de uma minoria privilegiada no país. De acordo com Germann, estrangeiros “normais” sofrem ocasionalmente preconceito e se constituíram num dilema para o governo local. - As pessoas normais sofrem discriminação de tempos em tempos, mas os jogadores normalmente são idolatrados. Claro, quando jogam mal, é possível que haja comentários racistas na Internet, por exemplo, mas são exceções. No momento, a pergunta que mexe com as pessoas é: o que se faz com os estrangeiros? De um lado, somos dependentes deles porque a economia necessita de gente, por outro existe o medo de que suíços possam sofrer com o desemprego – completou Germann. A história de Inler ilustra bem a situação vivida na Suíça. O pai veio da Turquia em busca de uma vida melhor; o filho, no caminho para se tornar jogador, resolveu defender o país para agradecer pela hospitalidade. - Meu pai veio para a Suíça para trabalhar. Depois que ele encontrou um emprego, minha mãe se mudou para a Suíça também. Eu nasci aqui e tive uma infância muito feliz. A maior parte da minha juventude eu passei jogando futebol. Até por isso não tive a oportunidade de me dedicar tanto aos estudos quanto gostaria. Tive de fazer uma escolha já que o futebol sempre foi a minha grande paixão – contou o volante do Napoli. PLURALIDADE A FAVOR Por enquanto, a pluralidade cultural que tomou conta do país e, consequentemente da seleção, não atrapalha em nada a Suíça. O time se classificou em primeiro lugar no Grupo E das eliminatórias e será uma das cabeças de chave da Copa do Mundo. Sinal de que a mistura vem dando certo. - Nós não ligamos para a nacionalidade de cada um, nem de onde veio cada jogador. Somos uma equipe, um grupo fechado em busca dos objetivos – garantiu Inler. - A seleção representa a população da Suíça, que é bastante multicultural. A maioria das pessoas vê isso de forma positiva, já que isso é um símbolo de uma integração bem sucedida. É claro que no futebol há mais “estrangeiros”, porque eles normalmente têm mais afinidade para o esporte ou veem uma possibilidade de subir na escala social (e monetária). Mas tudo não é tão extremo como em países pobres, já que todos aqui recebem a chance de ter uma educação adequada – disse o jornalista Germann. BOM TRABALHO NA BASE Se a Suíça conseguiu aproveitar esta pluralidade, o mérito é também da federação de futebol local. A entidade montou um trabalho de desenvolvimento da base e conseguiu colher rapidamente os frutos da "mão-de-obra" qualificada que recebeu de presente por causa das características do país. Em 2009, a seleção sub-17 foi campeã mundial com 100% de aproveitamento, eliminando o Brasil na fase de grupos, além de Alemanha e Itália no mata-mata. Na decisão, bateu a anfitriã Nigéria. Naquele time, estavam Xhaka, Kasami e Rodríguez, todos na seleção principal atual, assim como outros "estrangeiros" que ainda não vingaram. - A Federação começou já no fim da década de 1990 um programa de educação futebolística de muita qualidade, comparável ao da Holanda; Campos de treinamento perfeitos, ótimos treinadores, infraestrutura e uma ótima organização com escolas: isso tudo fez com que muitos jogadores tivessem uma base muito boa para se tornar jogadores profissionais. Como consequência, praticamente da seleção principal passaram pelas equipes de base da Suíça (sub-15 até sub-21) 0 explicou Germann. Entretanto, a boa preparação nas categorias de base pode sair pela culatra. Isso porque alguns jogadores, assim como o brasileiro Diego Costa na Espanha, podem optar por defender outra seleção. A principal ameaça é o Kosovo, que luta por seu reconhecimento na Fifa e, se conseguir, pode contar com Shaqiri, Xhaka e Behrami. Uma hipótese menos provável é a ida do atacante Derdiyok para o Curdistão, território na Ásia que ainda busca a independência. Por enquanto, a estratégia é não se preocupar com que pode nem acontecer. - Eu gostaria de não especular. Hoje o Kosovo ainda não é reconhecido oficialmente pela FIFA. Portanto, não há necessidade de qualquer especulação - afirmou Inler. - Uma coisa é lógica : Esses jogadores têm uma conexão muito grande com o Kosovo, eles amam o país. Na minha opinião, eles vão continuar jogando com a Suíça, até que a chance de alcançar metas maiores com o Kosovo apareça. Como isso pode durar muito tempo, acho que não será algo provável nos próximos anos - analisou Germann. Via: Globoesporte
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